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Tocar uma startup: muito mais parkour do que glamour

Meu ano de 2018 foi pautado pelo principal desafio da minha vida até então: tocar uma startup. Nesse 1 ano de permutando.com aprendi mais do que nos meus 20 anos de carreira na publicidade, mais do que em mestrado e MBA, principalmente porque uma ideia disruptiva precisa mudar a cabeça das pessoas, que estão acostumadas a fazer de um jeito e passarão a fazer de outro. Esse é o maior desafio de toda ideia inovadora. Poucas alcançam um ano e raríssimas começam a faturar em menos de um ano… Nós conseguimos essas duas vitórias e isso já vale uma “comemoração reflexiva”.

Imagino o trabalho que deu para levantar o Uber, o AirBNB e tantas outras maravilhosas ideias que viraram negócios milionários e mudaram o mundo. Quando eu digo no título que uma startup “é mais parkour do que glamour” quero sintetizar o sentimento que acumulei nesse período (não pretendo me alongar, mas quem não identificou o termo “Parkour”, vai rapidamente entender a metáfora vendo esse vídeo).

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Adoro essa imagem 😉

Empreender no Brasil é um ato heróico, mas antes de mais nada é imprescindível dissociar o ato de empreender em mercados tradicionais, consolidados, de iniciar uma ideia inovadora do zero. Você pode criar uma empresa que lucre bem, mas nem por isso seja uma startup. Uma startup tem uma definição bem clara:

Organização temporária em busca de um modelo de negócios repetível, escalável e lucrativo.

Ou seja, não basta ser lucrativa se não for repetível e escalável! Precisa resolver o problema de muuuiiiittaaa gente. Essa é a grande diferença de uma empresa que lucra, mas tem um “teto baixo” de crescimento.

A vida de uma startup em 4 aprendizados importantes

Tentarei resumir os meus maiores aprendizados em 4 pontos que considero fundamentais para quem pensa em entrar nessa área:

1. Uma ideia vale muito, mas muito menos do que você precisa para dar certo:

O permutando.com é um portal vertical de permutas imobiliárias, que une proprietários a outros proprietários, além de empresas dispostas a permutar imóveis, em uma plataforma segura, rápida e eficiente. Não nos envolvemos nas negociações, nem ganhamos comissão nas transações. Apenas unimos os interessados e cobramos uma assinatura mensal pelo serviço. Em poucas palavras, somos o “Tinder do mercado imobiliário”.

Ouvir muitas vezes “Que ideia sensacional!!”, “Isso é fantástico”, “Vocês vão ficar milionários” é bem legal, mas “não enche barriga”. A ideia é o começo de tudo, mas existem coisas tão ou mais importantes para a startup acontecer. Lembro uma passagem logo no início, na primeira vez que sentamos com um investidor que se interessou pela ideia ainda no power point. Sentamos, apresentamos e no slide final pedíamos uma grana “só pela ideia”, fora o resto para colocar no negócio. O cara leu e muito educadamente colocou a gente com os pés no chão dizendo “ninguém bota dinheiro APENAS numa ideia”. Foi o primeiro grande tapa na cara que tomamos nessa “briga” de 1 ano. Hoje, quando lembramos disso, rolamos de rir… De vergonha.

Existe muito dinheiro para startups, mas não é fácil conseguí-lo.

2. O dinheiro é importante, mas sair da hipótese é imprescindível:

Existe muito capital disponível, especializado ou não, para investir em startup. O desafio é provar que sua ideia é um modelo de negócios REAL, ou seja, resolve o problema de muita gente que PAGARIA por ele. Ouvimos em muitas apresentações a investidores a seguinte (e tenebrosa) frase: a ideia é muito boa, mas será que alguém PAGARIA por ela? Enquanto a aquisição dos clientes é gratuita, tudo é lindo. Quando você começa a cobrar, sua startup sai do campo da HIPÓTESE e se torna um modelo de negócios viável ou não.

No permutando.com nós tivemos que mudar nossos planos e antecipar a cobrança para provar aos investidores que o negócio é DE VERDADE. Começamos a cobrar no último quadrimestre de 2018 e fechamos o ano com mais de 300 usuário pagantes, fora pessoas jurídicas que pagaram para anunciar seus imóveis e/ou negócios no “ecossistema imobiliário” criado pelo site. É o suficiente? Claro que não, mas já mostra claramente que, uma vez entendido, o modelo de negócios atrai pessoas dispostas a pagar para terem seu problema de liquidez imobiliária resolvido. Agora é tracionar, ou seja, crescer aceleradamente.

3. Sem fundadores com sinergia e relações profundas de amizade a coisa não acontece:

Quer ver uma amizade de anos se abalar? Envolva dinheiro. Viver de uma startup, no começo, é muito difícil. Os investidores colocam dinheiro NO NEGÓCIO, não na sua conta bancária. É claro que quem toca o barco precisa se remunerar de alguma forma, mas nunca será o que você ganha na sua atividade profissional… No começo, nunca! Preste atenção NESSA VERDADE: você só vai ganhar dinheiro com uma startup lá na frente, quando ela começar a tracionar. Até lá é um sofrimento ininterrupto.

Essa “dureza” x a necessidade de se manter é um dos principais desafios de uma startup. Porque se os fundadores não se dedicarem o negócio não acontece, ao mesmo tempo para se dedicarem, precisam ganhar o dinheiro que deixarão de ganhar nas suas atividades profissionais. Equalizar isso não é fácil. Muitas empresas acabam nesse “obstáculo” que parece intransponível. Entedeu agora a metáfora do “parkour”?

Ouvi de um um investidor que fez alguns exits fantásticos (em só um colocou mais de 100 milhões no bolso), que no começo ficou 5 anos sem emitir uma nota fiscal sequer, quase se separou da mulher e viu a sociedade inicial com 4 sócios se reduzir aos 2 que aguentaram o tranco e que colheram os frutos.

O que fez com que conseguíssemos ultrapassar essa dificuldade foi a amizade sólida entre os 4 fundadores. Não pense que foi fácil, quase saímos literalmente no tapa, discutimos asperamente muitas vezes, mas no final, tudo ficou certo. Por isso, pense muuuiiiiitttooo bem com quem pretende iniciar sua startup. Toque de amigo!

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O crescimento precisa ser sólido e constante

4. Sucesso antes do trabalho, só no dicionário:

Perseverança e resiliência são palavras fundamentais para o sucesso de qualquer negócio, principalmente para uma startup. Você, mais do que ninguém, precisa acreditar no seu negócio, o que não quer dizer se fechar no modelo inicial. No permutando.com nós mudamos algumas vezes o rumo do barco por perceber que era a hora de evitar o “iceberg” da teimosia.

Isso foi fundamental para nós e sabe quem indicou “mudança dos ventos”? Nossos usuários e clientes. Nenhuma ideia ou “achismo” é mais forte que a “voz” do mercado. Ouvir e não agir é morte certa. Perseverar é bem diferente de ser obcecado por um modelo, é acreditar no seu bom senso, se apoiando no mercado.

A resiliência é imprescindível porque certamente você vai ter que abrir mão de muitas coisas nessa vida de dono de startup e se adaptar às novas diretrizes da sua vida será uma questão de sobrevivência. Eu tive que vender meu carro para aportar na empresa. Me desesperei? Não, comecei a me locomover, prioritariamente, de bicicleta e com isso emagreci mais de 10 quilos, melhorei minha saúde e minha disposição para trabalhar. É chato às vezes ter que esperar por um carro de aplicativo? É chato ter que alugar um carro para viajar? É, sem dúvidas, mas hoje estou perfeitamente adaptado e feliz da vida.

É chato não ter dinheiro para viajar como você queria? É cansativo trabalhar fins-de-semana e madrugadas porque não tem assistente e/ou secretária para te ajudar? Lógico que sim, mas lá na frente o que me aguarda é muito recompensador e eu só tenho 45 anos… Me sinto um garoto, com apenas algumas dores lombares.

É isso! Empreender é para poucos que têm estômago forte e não desistem com facilidade. Se você pensa em criar uma startup, reflita sobre esses 4 pontos e se, no final, a vontade ainda estiver lá, caia de cabeça e bote o bloco na rua. Posso assegurar que é um “tesão” ver sua ideia virar um negócio.

Que venha 2019, com bastante trabalho, mais investimento para acelerarmos o nosso crescimento e muito sucesso para todos nós.

Estamos em busca de interessados em investir nesse nosso momento de tração. É só me contatar no cbernard@permutando.com

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