Toda vez que vejo essa dúvida sobre família ou trabalho, fico me perguntando como tem gente que ainda não entende que para essa questão só existe uma resposta. Já estava querendo escrever sobre isso, mas hoje vi um post no LinkedIn que me chamou muita atenção.
Nesse post o autor convidava pessoas a se candidatarem a empregos onde ele prometia pagar muito bem, mas por isso já avisava que “mandaria ZAP às 2h da manhã” e que faria “reuniões às 23h”. Muita gente “bateu” no cara e essa foi minha primeira vontade também, admito. Depois pensei bem e achei melhor não escrever nada. Muita gente precisando de dinheiro e querendo aceitar qualquer proposta. Não julgo, mas tenho uma visão sobre família ou trabalho muito particular.
Família ou trabalho: a minha história
Lá se ia o ano de 2010, eu trabalhava em São Paulo como Gerente de Marketing da Giannini S/A, a maior indústria de instrumentos musicais da América Latina e uma das maiores do mundo. Ganhava uma salário muito bom e tinha uma rotina totalmente ligada à música, contato com artistas, projetos de instrumentos, enfim, consegui unir minhas duas paixões: comunicação e música. Naquele momento eu já cuidava da minha filha mais velha sozinho, porque a mãe dela havia falecido. Era muito difícil me dividir entre a responsabilidade de um cargo tão importante e a imensa responsabilidade de criar um ser com tudo que essa tarefa exige: respeito, afeto, cuidado, atenção e por aí vai.
Um belo dia recebi um bilhete na agenda dela informando a data daquela tradicional festa de fim de ano e informei ao meu chefe, com 2 meses de antecedência, que precisaria sair naquele dia IMPRETERIVELMENTE às 18h. Quase chegando no dia, recebi um email marcando uma reunião de orçamento do ano seguinte, super importante, para a mesma data da festa, mas como o horário era bem mais cedo, 14h, não me preocupei.
No dia e na hora marcada lá estava eu com todo o meu material. A reunião atrasou, atrasou, eu lembrei que teria que sair às 18h, mas não adiantou… A chamada para a sala da presidência aconteceu às 17:45h. Entrei bem nervoso e pensei o que faria com aquela situação, família ou trabalho, que se apresentava para mim. Pensei na grana que eu ganhava e o quanto aquilo me ajudava na criação da minha filha e pensei também no quanto me custaria o olhar dela, vazio, me procurando na plateia… Parece cena de filme, né? Mas era a minha vida e eu tinha que tomar uma decisão rápida.
Foto do dia
A reunião começou, o presidente começou a falar de metas e eu olhava o relógio insistentemente, esperando que ele desse uma pausa e eu pudesse dizer que tinha que sair. Ele não parou e eu tive que interrompê-lo! Disse que já tinha avisado do meu compromisso há meses, ele retrucou dizendo que eu TINHA que ficar, mas não titubeei e disse “Me desculpem, mas estou saindo”… E saí.
Minha decisão repercutiu muito mal, o presidente não me dirigiu a palavra por dois dias e, incomodado com isso, fui até o meu chefe e pedi demissão. Disse que se aquela situação acabaria num desgaste muito pior e que toda minha admiração pelo presidente se transformaria numa grande mágoa, o que eu não queria. Minutos depois fui chamado à sala da presidência e ouvi a seguinte frase “Christian, no começo fiquei muito aborrecido, mas conversando com minha esposa, entendi que você tomou a única decisão possível naquele momento… Sua família”. Depois disso ele disse que me mandaria embora e que queria que eu continuasse a atendê-los pela minha agência, o que aconteceu por muitos anos depois disso. O nome dele? Giorgio Giannini, um dos caras mais fascinantes que conheci na vida.
Desse dia em diante nunca mais tive dúvidas que não há dinheiro que pague a relação de um pai com seus filhos ou que exista alguma dúvida na relação família ou trabalho. E essa relação não tem só a ver com a paternidade… Isso tem a ver com casamento, com irmãos, com todas as relações familiares.
A vida não tem volta. Os filhos crescem e os momentos são únicos. Para quem acha bonito o que o cara do post escreveu, só desejo que a vida me contrarie e dê a eles mais oportunidades de presenciarem o brilhos dos olhos nos filhos ao olhá-los com admiração e agradecimento. Isso para mim nunca teve, nem nunca terá preço.
E você, o que pensa sobre essa questão, família ou trabalho? Me conte.
Forte abraço.
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