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Desconstrução – Um post e uma imagem por dia – 8 de fevereiro

Tenho 46 anos e dar aulas para jovens me obriga a uma desconstrução de tudo que aprendi e vivi até hoje. A sala de aula é uma “panela de pressão”, que pode explodir em elogios e reconhecimentos, como também pode virar uma enxurrada de críticas pesadas. É complicado para pessoas da minha geração entenderem alguns conceitos muito utilizados hoje, mas depois de “apanhar” um pouco, aprendi e acho que melhorei como indivíduo! Estou mais aberto ao “novo”, respeito mais as diferenças e, principalmente, tento entender o sentido das coisas e não sair por aí falando asneira/desrespeitando o próximo.

Antes de mais nada é importante frisar que não quero parecer um especialista no assunto, até porque de fato não sou, nem roubar lugar de fala ou protagonismo de causa de ninguém, só pretendo colocar esse tema em pauta e chamar a galera da minha geração a refletir sobre o assunto e sobre a necessidade de mudança da nossa ótica de vida em sociedade, buscando sua desconstrução.

Uma das coisas que acho mais interessante abordar é o crescimento da presença feminina em todos os setores da nossa vida. Aos obtusos e preconceituosos, a palavra “feminismo” causa repulsa por pura IGNORÂNCIA. Feminismo nunca foi o oposto de machismo! Enquanto o machismo prega uma SUPERIORIDADE dos homens sobre as mulheres, o feminismo prega a IGUALDADE DE DIREITOS. É tão simples! Eu, até porque tenho 2 filhas, sou super pró-feminismo e quero mesmo é que essa tão sonhada equidade aconteça. Nós, homens, precisamos acelerar nossa desconstrução o mais rápido possível porque não se trata de uma competição por poder… É apenas uma questão de justiça!

A desconstrução nossa de cada dia

Outra questão, também muito atual na vida universitária é a presença cada vez mais forte do “orgulho LGBT” no pátio e na sala. Cada vez mais os jovens estão assumindo sua orientação sexual e/ou sua identidade de gênero, e se “amando” de forma mais livre e convicta. Quando eu respondo uma pergunta ou corrijo uma prova, pouco me importa o que o(a) aluno(a) em questão faz entre quatro paredes ou como ele(a) se enxerga ao se olhar no espelho, só começa a me importar da porta da sala de aula para dentro. Sei que muita gente (próxima) quando ler isso fará uma cara feia e eu não entendo mais o porquê disso. O diálogo que eu sempre proponho, bem diretamente, toda vez que algum amigo, parente ou colega critica minha postura é:

– Você é gay?
– Claro que não!
– Então continue se relacionando de forma heterossexual e deixe quem se sente diferente de você ser feliz. É simples! Para respeitar os gays NÃO É NECESSÁRIO SER GAY. Continue HÉTERO, mas apenas RESPEITE AS DIFERENÇAS porque você não é o centro do universo.

Ainda sob esse prisma, outra coisa importante a explicar é que a ORIENTAÇÃO (não opção) SEXUAL em nada tem a ver com a IDENTIDADE DE GÊNERO. Enquanto a primeira trata da atração sexual que o indivíduo sente (ou não), a segunda trata da forma como ele se enxerga em relação ao seu corpo. Na minha fase adolescente/jovem, não se falava de identidade de gênero, apenas se a pessoas era HÉTERO ou HOMOSSEXUAL. Eu, buscando cada vez mais a minha desconstrução, precisei entender isso e vou tentar resumir de forma “bem simples” aqui. Sei que é difícil para muitos, mas a primeira dica importante que eu dou é: a identidade de gênero VEM ANTES da orientação sexual. Muito antes da criança começar a desenvolver a questão da sua sexualidade, ela já pode ter questões com sua identidade de gênero. Vamos lá:

IDENTIDADE DE GÊNERO
– CISGÊNERO: Identifica-se com gênero do seu nascimento;
– TRANSGÊNERO: Não identifica-se com o gênero do seu nascimento.

ORIENTAÇÃO SEXUAL:
– HETEROSSEXUAL: Sente atração pelo sexo oposto;
– HOMOSSEXUAL: Sente atração pelo mesmo sexo;
– BISSEXUAL: Sente atração pelos dois sexos;
– ASSEXUAL: Não sente atração sexual.

Poderia ainda falar de sexo biológico e expressão de gênero, mas acho que ia complicar demais a cabeça de muita gente!

Ou seja, eu sou CISGÊNERO (nasci homem e me identifico com essa condição) e HETEROSSEXUAL (me atraio por mulheres). Pensem agora nesse exemplo: Bia, uma menina (nasceu “mulher”) de 8 anos começa a ter incômodos com essa sua identidade, porque no fundo do seu coração, se sente um homem. “Ela” é um HOMEM TRANS. Ainda não estamos falando de como “ele” irá se atrair sexualmente mais à frente na sua vida. Agora começa a complicar, mas não é nada impossível de entender:

  • Se Bia, na adolescência, começar a se sentir “atraído” por mulheres, “ele” será um HOMEM TRANS HETEROSSEXUAL (Lembrem-se, Bia se identifica como um HOMEM e se atrai por MULHERES, logo sua orientação é HETEROSSEXUAL);
  • Se Bia, na adolescência, começar a se sentir “atraído” por homens, “ele” será um HOMEM TRANS HOMOSSEXUAL (Lembrem-se, Bia se identifica como um HOMEM e se atrai por HOMENS, logo sua orientação é HOMOSSEXUAL);

Foto do dia

Mais amor, por favor

Já pararam para pensar a tortura que deve ser nascer num corpo de mulher/homem, mas olhar no espelho e não se enxergar naquela “roupa de carne”? Ao invés de criticar precisamos REAPRENDER a enxergar nossas relações humanas e priorizar que independente dessas questões, complexas sim, estão SERES HUMANOS.

Por último, queria tocar num assunto não menos sensível na minha desconstrução: o humor. A minha geração nasceu e cresceu aprendendo que o engraçado era o modelo “Os Trapalhões”, onde um negro, um nordestino, um gay não assumido e um não muito definido, se “sacaneavam” mutuamente. Por isso, muitas piadas que antigamente eram consideradas engraçadas, que até eu cansei de contar, hoje não são mais aceitas. Hoje, graças a Deus, o engraçado não é mais sacanear as minorias… O engraçado é sacanear quem ainda está vivendo no século passado!

Se para você é complicado entender essas questões, tente abrir sua cabeça e ao menos RESPEITE. Já será um grande avanço. Saiba que é bem provável que sua mudança de postura torne muito melhor a vida de alguém BEM PRÓXIMO de você. O fato é que o mundo mudou e a gente, na casa dos 40 ( e de todas as idades) também precisa mudar. Pensem nisso!

Uma abraço!

Se quiser saber mais sobre o projeto “Um post e uma foto por dia”, clique aqui

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