Se existe uma coisa certa na vida é o desencarne. Todo começo de ano é assim, as pessoas vão fazendo suas “passagens” e nós vamos ficando, tristes, com sentimento de que “poderíamos ter feito mais”. A medida que vamos ficando mais experientes, vai ficando mais dolorido porque não são mais os “velhos” da família que nos deixam. São nossos amigos, alguns próximos, outros nem tanto, mas isso sinaliza o estágio da nossa vida.
Desde que comecei a me aproximar do Kardecismo, uma doutrina que explica muito bem esse processo e nos acalenta o coração, passei a enxergar isso de outra forma. Fico triste, é claro, mas me conforta saber que não existe um “fim”… O desencarne dessa nossa vida é apenas mais uma passagem pela Terra, por um corpo físico, rumo à evolução do nosso espírito.
As dúvidas que a maioria das religiões deixa nessas questões, mais atrapalha do que ajuda. Só para exemplificar como algumas questões complexas são tratadas, lembro-me de uma passagem do filme “O nome da rosa” (1986), que se passa em um mosteiro italiano em 1327, onde um complexo enredo desenha uma série de assassinatos suspeitos (CHEGA DE SPOILER). Um noviço aborda um monge com dúvidas “de vida”, travando o seguinte diálogo (algo assim, não me lembro exatamente ;):
Noviço – Senhor, pode me tirar uma dúvida?
Monge – Claro, meu filho! Diga…
Noviço – O que é o amor?
Monge – Como assim? O amor por Deus, por Jesus Cristo?
Noviço – Não, Senhor… O amor por uma mulher!
Monge – Como assim? O amor por Nossa Senhora?
Noviço – Não… Por uma mulher normal…
[Pausa em silêncio]
Monge – Vá dormir, meu filho. Já está tarde.
O Kardecismo se baseia em 11 livros escritos por Allan Kardec, codificando a doutrina e explicando várias questões bem complexas. Desses, 5 são a literatura base e destrincham várias questões importantes. São eles:
- O Livro dos Espíritos
- O Livro dos Médiuns
- O Evangelho Segundo o Espiritismo
- O Céu e o Inferno
- A Gênese
O desencarne, segundo os espíritos
D’O Livro dos Espíritos, onde eles respondem perguntas de Kardec, retirei os trechos abaixo, que julgo serem importantes para entendermos o desencarne de uma forma menos dolorosa.
II – Perda de Entes Queridos
Allan Kardec, Livro dos Espíritos, 1857
Pergunta 934. A perda de entes queridos não nos causa um sofrimento tanto mais legítimo quanto é ela irreparável e independente da nossa vontade?
— Essa causa de sofrimento atinge tanto o rico como o pobre: é uma prova de expiação e lei para todos. Mas é uma consolação poderdes comunicar-vos com os vossos amigos pelos meios de que dispondes, enquanto esperais o aparecimento de outros mais diretos e mais acessíveis aos vossos sentidos.
936. Como as dores inconsoláveis dos que ficam na Terra afetam os Espíritos que partiram?
— O Espírito é sensível a lembrança e às lamentações daqueles que amou, mas uma dor incessante e desarrazoada o afeta penosamente, porque ele vê nesse excesso uma falta de fé no futuro e de confiança em Deus, e por conseguinte um obstáculo ao progresso e talvez ao próprio reencontro com os que deixou.
Por que resolvi escrever sobre isso? Porque soube do desencarne de um colega, professor e outro colega comentou comigo que estava triste porque achava que poderia ter sido um amigo mais próximo dele. É um pensamento bem comum, mas tudo o que passamos e ainda vamos passar já está “desenhado” para essa passagem pela terra.
Note que tudo que acontece conosco faz parte de um aprendizado rumo à perfeição do nosso espírito. Isso é escolhido por nós mesmos, antes de reencarnarmos. Aí, depois, encarnados, esquecemos de tudo e Deus nos dá a chance de escolher o que fazer, novamente, durante essa vida, o que é chamado de “Livre arbítrio”. Nossas escolhas são, nada mais, nada menos, do que o nosso aprendizado rumo à evolução espiritual.
Se você também tem esse sentimento na hora que perde um ente querido, um amigo, talvez seja a hora de começar a pensar nessas “mensagens” e começar a aprender a relevar diferenças, distâncias e outras coisas que podem “cobrar” da sua consciência. Que tal perdoar aquela briga que te afastou de alguém? Ou aproveitar aquele feriado prolongado e visitar aquela pessoa que você gosta tanto e a muito não vê pessoalmente.
As escolhas da vida são suas, só suas! Exerça-as com sabedoria enquanto é tempo! O desencarne, alguma hora, é certo e o melhor é fazer enquanto você pode… A vida é um sopro.
Fique com Deus.
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