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Arthur Maia: o gigante e minhas memórias

Preciso confessar um crime e o Arthur Maia faz parte dele. Vivemos dias em que o roubo é quase algo comum, ordinário, aceitável. É triste, mas é verdade. Eu tento ser um cara honesto, principalmente, para ter paz com a minha consciência, dar exemplo para as minhas filhas, para os meus alunos, para quem me cerca. Só que há dois dias um fato aconteceu e me lembrou uma coisa errada que eu fiz ainda bem jovem, lá pelos meus 20 anos e que tinha ficado esquecida na memória: Arthur Maia, um dos maiores baixistas que já pisaram na terra, nos deixou, repentinamente, jovem, aos 56 anos.

Arthur Maia, o gigante do baixo

Esse fato me fez lembrar de algo que hoje abomino quando fazem comigo, mas que naquela ocasião foi mais forte do que tudo. Não consegui segurar! Pode parecer desculpinha esfarrapada de “ladrão envergonhado”, mas é incontrolável, podem acreditar!!

Sempre fui muito ligado à música. Desde moleque quando fiquei anestesiado ao ver meu primeiro show de música instrumental com 12 anos (acho). Foi demais! Era o meu querido primo Ulisses Rocha (o grande responsável pela minha paixão pela música, acho que nem ele sabe disso), monstro do violão, tocando com César Camargo Mariano, que showzaço… Lembro-me de ter decidido “ser músico” vendo o Percussionista João Parahyba tocando nesse show! Saí de lá dizendo que seria percussionista ❤️ Comprei instrumentos, estudei e toquei bastante! Ah, época boa…

Depois tive um outro forte encontro com a música instrumental num show no finado Jazzmania. Era o maestro Zé Américo Bastos, pai do meu melhor amigo, que eu já havia presenciado gravar em estúdio e tocar com várias feras da MPB, junto de outros monstros como Zeppa Souza e Camilo Mariano Oliveira, quebrando tudo na mais pura música instrumental, da pesada… Mas voltemos ao meu delito!!

A música instrumental havia sido apresentada a mim, eu tinha gostado bastante, mas não ao ponto de escutar em casa, no carro… Ficou guardada no meu coração num lugar bem especial. Até o fatídico dia à tarde, já com minha banda de Soul Music, o Leo, meu baixista me apresentou um CD de um cara chamado Arthur Maia. Lembro-me como se fosse hoje! A primeira faixa, “Sonora”, me arrebatou tão forte, foi tão impressionante ouvir o tema lindo mixado com a voz da vó do Arthur Maia… Sim, isso mesmo, o cara era tão foda que colocou na música a voz da avó se misturando ao tema… Aquilo ficou tão lindo que não me contive: pedi o CD emprestado e NUNCA MAIS DEVOLVI. É gente… Roubei o CD do amigo! Foi incontrolável! Paixão à primeira audição. Paixão pelo instrumento BAIXO, elétrico ou acústico, especialmente o fretless (sem trastes) 😍 Depois conheci Jaco Pastorius e outros “tarados” do instrumento… Não parei mais!

O tema e a voz da vozinha do Arthur…

Daí por diante, me afundei nesse vício… Não o de roubar CDs de amigos, mas o de consumir pesadamente música instrumental! Parti para comprar desenfreadamente “drogas mais pesadas”… Jazzão raiz, música de elevador, chorinho, todas as nuances da música sem voz!

Mais tarde, como Gerente de Marketing da Giannini pude ter o prazer de conhecer os melhores músicos do Brasil. Para o meu deleite, de repente, tinha contato e o telefone de vários deles, recebia-os na fábrica, era convidado para shows etc… Até um dia que, novamente com meu primo Ulisses Rocha, eu estava papeando na Expomusic e cruza na minha frente o cara que eu endeusava: Arthur Maia, em carne e osso. Parou para falar com o Ulisses, fomos apresentados, tentei muito trazê-lo para o nosso time de endorsers, mas ele era um cara fiel e continuou com as marcas que o patrocinavam. Que cara gente boa, educado, apoiei alguns eventos dele em Niterói e assim pude ficar mais próximo do meu ídolo!

Quase 20 anos depois, um dia desses, estava eu no show do “sem palavras” Richard Bona, no Blue Note e quem estava lá, curtindo e ao mesmo tempo sendo reverenciado pelo artista da noite? O mesmo Arthur Maia. Demorei 3 dias para digerir essa perda e poder escrever sobre isso. Acabei lembrando que a única vez que roubei um CD de um amigo foi por conta dele e dessa musica que posto aqui agora. Me desculpe o amigo Leo. Ficamos mais pobres de música com a partida do Gigante e eu, que me considero um “ladrão recuperado”, com menos um ídolo para esbarrar pelos shows da vida. 😭😭😭😭

Descanse em paz, Arthur Maia.

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